RONOVAÇÃO CARISMÁTICA NAS IGREJAS HISTÓRICAS - 4
Antes de 1960, muitos pastores de denominações históricas que tiveram a experiência pentecostal enfrentaram as reações mais diversas por parte dos líderes dessas igrejas. Entre eles, estava Harald Bredesen (luterano e mais tarde membro da Igreja Reformada Holandesa), Richard Winkler (episcopal), Tommy Tyson (metodista) e Gerald Derstine (menonita). A exemplo de muitos antes deles, Derstine foi silenciado no ministério Menonita, enquanto Tyson e Winkler foram submetidos a sabatinas eclesiásticas antes de receberem permissão para continuarem exercendo seu ministério.
Mas o grande marco inicial da Renovação Carismática nas Igrejas Históricas se deu através do pastor episcopal Dennis Bennet, da Paróquia de São Marcos, em Van Nuys, na Califórnia – Paróquia Episcopal, é claro – em 1959. Depois de falar em línguas, ele foi pressionado por sua congregação e pelo bispo a exonerar-se da Igreja. Seu resoluto testemunho acerca da validade da sua experiência causou um verdadeiro frenesi na mídia. O resultado foi o surgimento de um novo movimento, cujos seguidores receberam o rótulo de “neopentecostais” (termo que logo no início deixou de ser empregado, dando lugar ao termo “carismáticos”). Depois de deixar a Paróquia de São Marcos, o Reverendo Bennett exerceu seu ministério por duas décadas na Igreja Episcopal de São Lucas em Seattle, Washington, que se tornou um centro de irradiação da Renovação Carismática para todo o país. Não tardou para que uma avalanche de líderes aderisse ao movimento, seguindo a Bennett.
O fato, contudo, é que antes de Bennett muitos irmãos e irmãs, de Igrejas Históricas, haviam passado por experiências semelhantes.
Em 1907, depois que o avivamento da Rua Azusa chamou a atenção do mundo para os dons do Espírito, Alexander Boddy, pároco da Igreja Anglicana de Todos os Santos, em Sunderland, na Inglaterra, promoveu uma campanha de reavivamento espiritual em sua igreja. Por muitos anos, as convenções anuais de Sunderland funcionaram como centros de renovação da igreja na Inglaterra, Europa e Estados Unidos. Essa “renovação que faltava” – como alguns diziam – chegou ao fim principalmente por causa da Primeira Guerra Mundial e pela ausência de uma liderança mais capacitada.
Também em 1907, por intermédio de Gaston Cashwell, muitos pastores e membros da Igreja Batista do Livre-Arbítrio na Carolina do Norte falaram em línguas e levaram a renovação carismática para suas congregações. Esses primeiros batistas pentecostais sofreram rejeição por parte de muitos de seus irmãos nas associações batistas locais. Como resultado, organizaram em 1908 a Igreja Batista Pentecostal do Livre-Arbítrio, que hoje conta certa de 150 igrejas e 13 mil membros.
Em 1909, Willis Collins Hoover, médico estadunidense que se tornou missionário da Igreja Metodista Episcopal, recebeu notícias do que estava acontecendo nos Estados Unidos e na Índia a respeito do despertar pentecostal. Willis passou a buscar o reavivamento com as lideranças da Igreja Metodista de Valparaíso e Santiago; eclodiu lá uma experiência Pentecostal: falavam em línguas, profetizavam e “dançavam no Espírito”. Foram expulsos da Igreja Metodista.
Em 1909 o Pastor Luterano Jonathan Paul teve contato com a experiência pentecostal e iniciou diversos grupos de oração na Alemanha. Embora ele tenha recebido muita rejeição por parte dos demais pastores luteranos, Jonathan Paul seguiu seu caminho e permaneceu pastor luterano até sua morte.
Em 1932, um filósofo e teólogo da Igreja Reformada da França chamado Louis Dalliere teve uma experiência pentecostal. De 1932 a 1939, trabalhou através da Fundação da União de Oração, que, a partir de 1939, voltou a comunhão com a Igreja Reformada da França e Dalliere passou a ser considerado um “líder carismático” dentro da denominação. Através da fundação, Dalliere trabalhava pela renovação da Igreja reformada na França e estabeleceu diálogo com a Igreja Católica e Ortodoxa.
Em 1937, Ross Whetstone recebeu o batismo no Espírito Santo aos 18 anos de idade. No ano seguinte, juntou-se ao Exército de Salvação e foi promovido a oficial em 1939. Em 1950, transferiu sua ordenação para a Conferência Central de Nova York da Igreja Metodista.
Em 1947, Harald Bredesen fez a experiência do Batismo no Espírito Santo. Ele nasceu e cresceu num contexto luterano radical e tinha planos de se tornar ministro da igreja após concluir seu trabalho na assessoria do Conselho Mundial de Educação Cristã. Filho de um pastor luterano de Minnesota, ele frequentou o Seminário Teológico Luterano de St. Paul e serviu como pastor em regime de internato em Aberdeen, Dakota do Sul, antes de assumir seu posto em Nova York. Um tempo depois, Bredesen foi incentivado por vários líderes cristãos importantes a buscar a experiência do batismo no Espírito Santo, entre eles Pat Robertson e John Sherrill. Ele foi ordenado ministro da Igreja Reformada Holandesa e aceitou o convite para pastorear a congregação de Mt. Vernon, Nova York. Bredesen foi um “João Batista” do movimento de renovação carismática nas Igrejas históricas.
Em 1949 começam, na Espanha, os Cursilhos de Cristandade na Diocese de Maiorca, entre os Jovens da Ação Católica. Através destes retiros de três dias, muitos tiveram uma profunda experiência com Jesus Cristo e experimentaram uma genuína conversão. O movimento espalhou-se para a América Latina e, depois, para os Estados Unidos, e é da juventude do Cursilho que surge, em 1967, a Renovação Carismática Católica, por isso vale a pena situar o cursilho aqui… nessa linha histórica.
Em 1950, James Brown foi o primeiro e bem conhecido ministro presbiteriano a ter uma experiência com o dom de línguas e com a cura divina. Ele era pastor da Igreja Presbiteriana de Upper Octorara, perto de Parkesburgh, na periferia da Filadélfia, na Pensilvânia. Brown foi batizado no Espírito Santo e começou a falar em línguas. A experiência o fez se mover de um extremo liberalismo teológico para o cristianismo carismático evangelical. No início, Brown estava convencido de que não poderia permanecer na Igreja presbiteriana depois daquela experiência. Sem saber que rumo tomar, solicitou os conselhos de David Du Plessis. “Fique em sua igreja e renove-a”, foi a resposta do famoso líder pentecostal. Brown então seguiu o conselho com determinação.
Em 1952, enquanto pastoreava a Igreja Metodista Betânia, em Durham, na Carolina do Norte, Tommy Tyson recebeu o batismo no Espírito Santo e falou em línguas. Recebendo oposição dos colegas de presbitério, procurou seu bispo e lhe informou a intenção de deixar a Igreja. Seu bispo, por outro lado, dissuadiu-lhe. A partir de 1954, Tyson recebeu designação de evangelista autorizado e iniciou um ministério mundial de ensino e pregação responsável por conduzir milhares de ministros e leigos à experiência do batismo no Espírito Santo.
Num acampamento de “Escola Bíblica de Férias” na Igreja Menonita de Loman, Minnesota, sete igrejas enviaram 76 adolescentes para estudar a Bíblia no período entre o Natal de 1954 e o ano novo de 1955. O líder dessa escola especial era Gerald Derstine, pastor da Igreja Menonita de Lake Strawberry, em Minnesota. Uma oração intercessória pelos pais não convertidos foi dando lugar a uma experiência inusitada: Muitos tremiam, choravam, caiam ao chão e falavam em línguas. Em seguida, palavras de profecia de proporções mundiais começaram a sair. Derstine acreditou em tudo o que presenciou e ele mesmo foi batizado no Espírito Santo e falou em línguas. Em 1955, Derstine foi licenciado.
Em 1955, evangelistas batistas independentes que experimentaram o batismo no Espírito Santo organizaram algumas das maiores cruzadas de cura divina de que se tem notícia em Buenos Aires, na Argentina.
Em 1956, um clérigo episcopal americano, Richard Winkler, pároco da Igreja Episcopal da Trindade, em Wheaton, Illinois, foi batizado no Espírito Santo e falou em línguas. Pelo que se sabe, foi o primeiro pastor episcopal nos Estados Unidos a aderir abertamente ao movimento. Seu ministério sofreu tal reviravolta após ele ter recebido o batismo pentecostal que em sua igreja eram realizados cultos de cura divina, e muitos de seus membros receberam o batismo no Espírito Santo.
Às 9 horas da manhã de um dia de novembro de 1959 – como relatou Bennett no seu livro Nine O’Clock in the Morning – ele estava ajoelhado na casa de alguns amigos. Impuseram-lhe as mãos e ele começou a falar em línguas. Em abril de 1960 Bennett relatou sua experiência a Paróquia Episcopal de São Marcos, que ele pastoreava e, como já dissemos, sofreu oposição de parte dos paroquianos e de seu Bispo. As revistas Time e Newsweek deram ampla cobertura ao fato e Bennett se tornou um líder do nascente movimento.
O movimento alastrou-se com rapidez pelas igrejas episcopais do sul da Califórnia depois que o caso de Bennett se tornou conhecido. Em 1963, a revista Christianity Today noticiou uma nova irrupção espiritual na qual 2 mil episcopais do sul da Califórnia falaram em línguas.
Como já mencionamos no início, Bennett foi acolhido por outro bispo. Seu nome era William Fischer Lewis, que lhe ofereceu a falida Paróquia de São Lucas, em Seattle. Em pouco tempo, todo o conselho paroquial e a maior parte dos membros da Igreja haviam sido batizados no Espírito Santo. Nos cultos de domingo pela manhã, mantinha-se a liturgia com fidelidade. Nas terças-feiras a noite aconteciam as reuniões de oração carismáticas que ficavam lotadas de gente e de poder do Espírito. Ao longo de 20 anos, a Paróquia Episcopal de São Lucas foi um dos mais importantes centros de irradiação da Renovação Carismática.
Outro importante centro de renovação episcopal foi estabelecido na Igreja do Redentor em Houston, no Texas. Muitos líderes episcopais e pastores de outras denominações foram a Houston para verificar como a adoração pentecostal poderia ser integrada à vida litúrgica e sacramental da Igreja. (CONTINUA)
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