RENOVAÇÃO CARISMÁTICA NAS IGREJAS HISTÓRICAS - FINAL
De modo concomitante, Harald Bredesen, de origem Luterana, mas ordenado pela Igreja Reformada Holandesa, estava conduzindo muita gente a experiência do Batismo no Espírito Santo. Em 1963 ele foi um dos principais colaboradores da impressionante reunião realizada na Universidade de Yale, na qual muitos alunos falaram em línguas.
Um dos principais nomes da Renovação Luterana é o de Larry Christenson. Ele já ficara fascinado com a possibilidade da cura divina depois de ler um livro de Agnes Sanford (A luz que cura). Enquanto participava de um culto da Igreja do Evangelho Quadrangular, ouviu falar do Batismo no Espírito Santo com a evidência das línguas. Naquela noite, acordou na madrugada e, sentado na cama, falou em entra língua por um tempo, até que voltou a dormir. Sentiu uma maravilhosa sensação de louvor e alegria dentro de si. Christenson temeu por seu futuro como pastor luterano. Numa conversa com David du Plessis, ele foi aconselhado a permanecer na igreja luterana e promover o movimento de renovação entre seus pares.
Depois de Christenson, todos os ramos do luteranismo norte-americano foram afetados. Em 1970 os luteranos carismáticos começaram a coligar-se com o propósito de promover o movimento em suas igrejas. Produziram uma teologia luterana carismática e publicaram documentos e livros como “A Renovação Carismática entre os Luteranos”, “Bem-Vindo Espírito Santo” (todos sob coordenação de Christenson). Em 1979, 20% dos luteranos dos Estados Unidos faziam parte do movimento de renovação carismática.
Entre os presbiterianos, logo após o marco inicial com Bennett, surge a figura de Brick Bradford, que recebeu o batismo no Espírito Santo em 1966 num acampamento em Oklahoma. Depois de Bradford, sugiu Robert Whitaker. Por volta de 1967, um bom número de membros da Igreja Presbiteriana de Chandler, que ele pastoreava, falava em línguas. Não se falava em línguas nem havia imposição de mãos nos cultos regulares da Igreja, mas o avivamento estava em pleno vigor nos cultos familiares. Uma importante adesão ao movimento ocorreu em 1968, ano em que J. Rodman Williams recebeu o batismo no Espírito Santo enquanto trabalhava como professor de teologia sistemática no Seminário Teológico Presbiteriano de Austin, no Texas. Sendo já um teólogo conceituado entre os presbiterianos, William acrescentou à sua teologia um notável domínio das questões carismáticas.
Depois de Bennett, a renovação metodista foi encontrando portas abertas através de Tommy Tyson, que ficou amigo de Oral Roberts e passou a trabalhar com ele na Universidade, que se iniciara em 1965, abrindo a porteira para que outros metodistas fizessem o mesmo. Em 1968, Oral Roberts afiliou-se à Igreja Metodista.
Entre os Batistas, depois de John Osteen e a Igreja de Lakewood, destaca-se Howard Conatser na Igreja Batista de Beverly Hills, em Dallas. Nas Igrejas Batistas Americanas (antiga Igreja Batista do Norte) houve maior penetração do movimento carismático. O grande expoente, contudo, da renovação carismática entre os batistas foi Pat Robertson, já mencionado aqui, que em 1960 deu início à CBN e tornou-se lendário tanto no mundo religioso quanto na indústria televisiva dos Estados Unidos. Em 1988, Pat entrou na corrida pela candidatura à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano.
Entre os menonitas é interessante notar isto: havia um Bispo menonita chamado Nelson Litwiller que passou a aceitar o batismo no Espírito Santo por causa de carismáticos católicos de South Bend, Indiana, especialmente por causa de Kevin Ranaghan. O que acontece depois disso? Bem, a Igreja menonita é, sem dúvida, uma das mais permeadas pela renovação carismática!
Depois deste percurso histórico, formulo a pergunta: “O que é a Renovação Carismática”?
A Renovação Carismática é o despertar dos carismas – em larga escala e de modo recorrente nas Assembleias e grupos das Igrejas Históricas – a partir de uma experiência “crítica” e de “sentido” chamada Batismo no Espírito Santo. Na Renovação Carismática – enquanto realidade vivida pelas Igrejas Históricas – o batismo no Espírito Santo é entendido como “graça atual”, uma disposição sobrenatural concedida por Deus às almas que as capacita para a um novo e vivo entendimento a respeito de certas realidades sobrenaturais e à realização de atos que, sob o mero influxo natural, elas não realizariam. Neste sentido, a presença e os dons do Espírito, recebidos na Iniciação Cristã, fluem do interior e passam a ser experiência (uma vez que esses dons foram recebidos ainda na infância, na maioria dos casos, sem a possibilidade de uma tomada de consciência). Há uma tomada de consciência e uma apropriação do que foi recebido na iniciação cristã (isto para as Igreja Históricas pedobatistas).
Percebam, portanto, que a corrente de graça – da qual falam os Estatutos do CHARIS, erigidos pela Santa Sé – é a mesma que deu origem ao pentecostalismo clássico, no início do Século XX. Percebam que aquele binômio, do qual falávamos, permanece o mesmo: Batismo no Espírito
Santo e Carismas!
O que acontece na Renovação Carismática, contudo, é uma sistematização doutrinária a partir da Tradição de cada uma das Igrejas Históricas e uma aplicação e prática pastoral e missionária também a partir dessas tradições. Logo que a Renovação Carismática surgiu na Igreja Episcopal, na Igreja Luterana, na Igreja Presbiteriana, na Igreja Metodista, na Igreja Batista e assim por diante… Houve toda uma organização de um corpo eclesiástico que se preocupou em oferecer orientações teológicas e pastorais que recebessem a renovação de modo fiel às tradições de suas comunidades. Na Renovação Carismática, por exemplo, é inconcebível falar de “dois batismos” ou da necessidade de uma manifestação das línguas para considerar alguém cheio do Espírito Santo!
Na Igreja Católica, o Batismo no Espírito Santo e as manifestações carismáticas foram recebidas a partir da tradição bimilenar da Igreja. Pode-se dizer que a Renovação Carismática Católica é a recepção de elementos da experiência pentecostal que estão presentes no Depósito da Fé bimilenar da Igreja e constituem, por isso, aquilo que o Decreto Unitatis Redintegratio chama de “Patrimônio Comum”. Livros como “Católicos Pentecostais”, de Kevin Ranaghan, “Movimento Pentecostal Católico”, do Padre Edward O’Connor, “Batismo no Espírito Santo e Iniciação Cristã” dos Padres Killian McDonnell e George Montague, “Pentecostalismo entre os Católicos”, de René Laurentin e, sobretudo, os Documentos de Malines, organizados pelo Cardeal Leon Joseph Suenens com a participação de teólogos renomados como Joseph Ratzinger (o Papa Emérito Bento XVI) dentre outros, foram de suma importância nesta tarefa!
Na Itália a Renovação Carismática Católica teve seu primeiro grupo de oração – do qual se tem notícia – dentro da Universidade Gregoriana, com a participação do Padre Francis Sullivan, sj e do Pe. Robert Faricy, sj. Poucos anos depois, o hoje Cardeal Raniero Cantalamessa, Patrólogo e Professor em Milão, engrossaria as fileiras desta Renovação Italiana, profundamente conhecida no mundo por radicar a experiência carismática na tradição católica dos santos e dos doutores.
A Renovação Carismática Católica, portanto, é o reconhecimento da catolicidade da experiência do Batismo no Espírito Santo e do exercício dos carismas.
Uma analogia possível é, por exemplo, a que se faz com o movimento mendicante; já havia um movimento de desprezo pelas coisas materiais no período em que surgiram os Santos Francisco e Domingos… o movimento mendicante, antes deles, era de tendência Gnóstica e Maniqueísta; com São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão, a pobreza realmente evangélica foi encontrada e se reconheceu a sua catolicidade. Embora a Renovação Carismática tenha chegado a nós por meio dos pentecostais e carismáticas de outras tradições cristãs, foi recepcionada e encontrou-se a catolicidade da Renovação Carismática.
Algumas vezes, por ignorância ou maldade – não cabe a mim julgar! – se diz que a Renovação Carismática propõe um “rebatismo”, ou um “segundo batismo”. Ora, uma das principais características que singulariza a Renovação Carismática e a faz diferente do Pentecostalismo, demarcando… “este é pentecostal”… “aquele é carismático”… é justamente a rejeição desse conceito de segundo batismo para afirmar a fé num só batismo! Isto é característico da
Renovação Carismática! Outra característica que diferencia a Renovação Carismática, em seu arcabouço teológico, do Pentecostalismo, é o lugar dos dons carismáticos na vida cristã; eles não são vistos como condição “sine qua non” para considerar alguém “batizado no Espírito Santo”.
Um dado curioso, que resulta exatamente dessa diferença na consideração dos carismas, é o modo como, por exemplo, o dom das línguas aparece na Renovação Carismática e o modo como é exercido no Pentecostalismo. Na Renovação, desenvolveu-se muito o “júbilo em línguas”, o “cantarolar em línguas” e se concebe como um “dom de oração”, que pode ser usado sempre que se vai orar… As palavras já não vão conseguindo expressar o louvor, a súplica, a intercessão, a adoração… e vão dando lugar às línguas. No mundo pentecostal, porém, o “falar em línguas” é algo mais “solene”… uma evidência de um mover extraordinário de Deus (e não um dom de oração). Enfim… São nuances… Diferenças interessantes a serem consideradas, muito embora não se possa categorizar e afirmar “todos os carismáticos são assim”… “todos os pentecostais são assado”… Não.
A Renovação Carismática Católica é uma infiltração protestante?
A profissão de fé é própria de seres livres; é própria de pessoas. Uma escultura, um livro, uma canção, uma pintura, um edifício não fazem “confissão de fé”. Nós dizemos que uma “coisa” é ou não “católica” a julgar pelo seu conteúdo. Não é a autoria o que confere ou retira a catolicidade de uma obra, mas tão somente o seu conteúdo. Infelizmente, há bispos, padres, religiosos, consagrados e leigos escrevendo, cantando e compondo coisas que não são católicas, e o fato de os autores o serem, não confere catolicidade a essas obras. Dentro deste mesmo raciocínio, por outro lado, se uma obra está de acordo com aquilo que o Magistério custodia e transmite, ela é “católica”, mesmo que seu autor, por algum motivo, não o seja. Autores como Tertuliano e Orígenes nos edificam muito com seus escritos. Contudo, nem tudo o que estes autores nos deixaram é condizente com a Doutrina Católica; isto, contudo, não desmerece em nada as obras realmente católicas que eles nos legaram. Não são poucos os que leem e recomendam C.S. Lewis, por exemplo, ou que executam as composições de Johann Sebastian Bach, mesmo que sejam protestantes (e a lógica é a mesma). Pouco posso afirmar sobre a santidade de Dietrich Bonhoeffer (embora seu testemunho de vida virtuosa seja eloquente); por outro lado, ele não é, em nada, “menos mártir” que Santa Edith Stein.
Neste sentido, a Renovação Carismática Católica não é uma infiltração protestante porque os elementos pentecostais acolhidos pela Igreja Católica na RCC são unicamente aqueles que condizem com o Depósito da Fé da Igreja, custodiado e transmitido a nós pelo Magistério da Igreja. A RCC é, em certo sentido, o contrário desta acusação: Ela é a “catolicização” do Pentecostalismo.
Ver na net:
https://sobrearochadepedro.wordpress.com/2022/03/10/a-renovacao-carismatica-nas-igrejas-historicas/
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