RENOVAÇÃO CARISMÁTICA NAS IGREJAS HISTÓRICAS - 2

 No fenômeno pentecostal, aqueles que fizeram a experiência do Batismo no Espírito Santo e manifestaram carismas em larga escala foram quase sempre expulsos de suas igrejas de origem. Estes, por sua vez, formaram as primeiras Igrejas nascidas do Pentecostalismo, chamadas também de “Pentecostais Clássicas”. Duas marcas constituem quase que um denominador comum entre os pentecostais clássicos:

  1. Para algumas Igrejas do Pentecostalismo Clássico, o “Batismo no Espírito Santo” se apresenta como um “segundo batismo”, distinto do “batismo nas águas”; o “Batismo no Espírito Santo” seria um revestimento de poder para o testemunho cristão e para a santidade enquanto o “batismo nas águas” seria a manifestação pública da aceitação de Cristo mediante a fé – para a salvação – cumprindo o mandato de batizar em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Cabe recordar que, entre os pentecostais clássicos, esta experiência de salvação ocorre quando a pessoa recebe a testificação interior do Espírito para arrepender-se de seus pecados e crerr em Jesus para a salvação; neste momento, para os pentecostais clássicos, a pessoa é salva. O Batismo nas Águas será a manifestação pública desta aceitação de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. O batismo no Espírito Santo, por sua vez, seria uma ação subsequente e distinta pela qual a pessoa é revestida para o testemunho cristão.
  2. Vertentes Pentecostais oriundas do Movimento de Santidade (influenciadas por autores como Edward Irwing, que, por sua vez , influenciou Charles Parham e William Seymour) consideravam, ainda, a “segunda benção” como uma capacitação para a santidade e o Batismo no Espírito Santo seria uma “terceira benção”: uma manifestação de Poder do Espírito com evidência dos carismas (em primeiro lugar, as línguas estranhas como evidência);
  3. A segunda marca dos Pentecostais Clássicos é a consideração dos Charismata como evidência do Batismo no Espírito Santo (apenas com a distinção sistemática de “segunda” ou “terceira benção”). Para a maioria das Igrejas Pentecostais Clássicas, o falar em línguas – seja glossolalia, seja xenoglossia – é a evidência do batismo no Espírito Santo. Para outras, sobretudo a partir do Movimento de Cura Divina (da década de trinta em diante) a evidência do Batismo no Espírito Santo poderia ser qualquer manifestação de dom espiritual (a cura, por exemplo);

Durante as seis primeiras décadas (1901-1960) o pentecostalismo foi excluído do que era considerado cristianismo respeitável nos Estados Unidos – de onde nos vem as principais referências sobre o assunto “Renovação Carismática” e “Pentecostalismo” –  e no resto do mundo. Os pentecostais eram barulhentos e, para alguns, desordeiros. O modo de adorar deles estava além do entendimento daqueles que não conheciam a espiritualidade interior que orienta o pentecostalismo. Acima de tudo, os pentecostais eram pobres, desprivilegiados, sem instrução e viviam alheios às últimas tendências teológicas que interessavam à maior parte das Igrejas Históricas. Movimentos como o modernismo e o “Evangelho Social” eram desconhecidos da maioria dos pentecostais, e os poucos que atentavam pra esses assuntos… o faziam com a intenção de condená-los. Na verdade, havia muita ignorância de ambos os lados. A reação comum às Igrejas modestas e ao povo pobre era a rejeição, embora os pentecostais, a despeito de serem o que eram, realizassem um trabalho benéfico pra sociedade, ministrando aos pobres e excluídos que se sentiam hostilizados e pouco à vontade com a sofisticação e a riqueza das igrejas históricas.

A maioria dos protestantes e católicos, na verdade, não se dava conta do número crescente de pentecostais empenhados em implantar igrejas em praticamente todas as comunidades dos Estados Unidos. Práticas como o falar em línguas, profecias e a expulsão de demônios eram consideradas subprodutos bizarros da ignorância religiosa e de um entusiasmo desenfreado. De fato, durante a primeira metade do século XX era mútua a rejeição entre pentecostais, as principais igrejas e a maior parte da sociedade.

Mesmo assim, o povo desenvolveu profunda curiosidade em torno das atividades dos pentecostais. As pessoas espiavam pelas janelas das inúmeras igrejas pentecostais, intrigadas com o barulho e a exuberância que caracterizava os cultos. Na época, os que padeciam de graves doenças deixavam de lado a cautela e íam às reuniões de cura divina dirigidas por algumas das evangelistas pioneiras do pentecostalismo como Aimee Semple McPherson, por exemplo. Muitos doentes eram curados e se tornavam fervorosos crentes pentecostais. Essa decisão às vezes significava o rompimento de relações sociais importantes, já que os convertidos muitas vezes passavam a ser rejeitados pela família e pelos amigos.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a situação começou a mudar, à medida que os pentecostais começaram a crescer. Nesse novo contexto, os pentecostais conquistaram certa projeção na sociedade, construindo templos enormes que chamavam a atenção do público. Depois de 1948, houve uma genuína explosão de interesse pelo movimento, com o surgimento de ministros de cura divina, como o evangelista Oral Roberts. Com a inauguração do ministério televisivo de Oral Roberts, a cura divina chegou à sala de estar dos lares norte-americanos. Era só uma questão de tempo para o pentecostalismo adentrar os templos das denominações históricas. Antes de 1960, os que falassem em línguas eram expulsos e por consequência forçados a unir-se a alguma igreja pentecostal. Nessa condição, provavelmente havia milhares que tinham de optar entre deixar sua igreja ou manter a experiência pentecostal em segredo para não serem obrigados a abandonar o púlpito. (CONTINUA)

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