Habacuque, o profeta da plaqueta, denuncia a violência

  ² "Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás" Habacuque 1:2

   Pergunta difícil. Não dá para sondar os desígnios de Deus. Assim como responsabilizá-lo por decisões humanas.

  A violência é essencialmente humana. Um camarada chamado René Girard (leia /ê/), filósofo, antropólogo e teólogo, desenvolve uma teoria mimética.

  Esta palavra provém de mimeses e significa "imitação". Esse filósofo afirma que toda sociedade elege, para si, um bode expiatório, no qual enxerga a si mesma.

  E a morte desse animal alivia a sede humana intrínseca por violência. A seguinte frase dos fariseus, em relação a Jesus, reflete essa dedução funcional de Girard:

   ⁴⁹ "Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os, dizendo: Vós nada sabeis, ⁵⁰ nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação." Jo 11.

   Espelha-se, dessa forma, em quem morre desse jeito, o alívio, a vingança, enfim, mesmo o simples descaso pela vida alheia. Mas isso é um lance à frente.

  Essa ginástica dedutiva de René merece reflexões filosóficas. Porque a violência brota, de seu elemento primordial, de raiz, de dentro do ser humano.

   Provém do íntimo. Se foi mesmo criado à imagem e semelhança de Deus, operou-se um corte tão decisivo, de semelhanças, que o instinto assassino foi incorporado.

  E por razões nenhumas, por assim dizer. Ódio não tem motivação. Amor sim, visto que o mandamento de Jesus se dirige até ao inimigo declarado e último, em grau.

   Em pleno dia da mulher, por assim dizer, data de destaque para pô-las sob resguardo de proteção, respeito e senso de mesma importância, em relação aos homens, destaca-se dupla modalidade de violência.

   Uma delas, aliás, por assim dizer, ambas vulgares, ocorrendo todo o tempo, mas desta, e mais esta vez, talvez mais frequente do que a outra, é a violência de homens contra elas.

   O sujeito atropelou propositadamente a mulher que ele julgava sua e no direito de punir, sob alegação de ciúme possessivo. Jazia no chão, já ferida, e o vídeo mostra a manobra desesperada dele para, de novo, atropelar, agora passando por cima.

   E o outro vídeo mostra a mãe, com o padrasto da filha, carregando o corpo da menina, a qual espancaram até a morte, carregado numa maleta, procurando onde esconder. Ela chama um Uber para simular sequestro da menina. A polícia cumpre sua rotina de interrogatórios, confrontação de versões, investigação, até que ele conduz ao lugar de ocultação.

   Estes dois requintes estão aqui em destaque somente como exemplos de violência gratuita, praticadas contra e pela mulher para se constatar, no caso, que elas podem ser vítimas ou algozes.

  Da mesma forma o homem. Ora, haverá exemplos diversos nessa vitrine humana da violência. Habacuque, o profeta, diz o texto, põe-se numa torre para saber, de Deus, uma reposta à violência. Na minha opinião, por uma lado, Deus se surpreende, e, por outro, não.

   Como se Deus dissesse: "Ora, Habacuque, você esperava o quê?". E o profeta pensasse, ou nem dissesse: "Mas o Senhor, com todo o respeito, não vai fazer nada? Nenhuma atitude de sua parte?"

   Qual atitude deseja-se ou se espera de Deus? Terá sido a que a Bíblia indica? De que se faz homem para, com amor, tentar dissuadir de toda a violência? Se foi essa a tentativa divina, Girard deve estar certo (e os fariseus também).

   Mataram o Filho, como bode expiatório. E, de certa forma, resolveu-se o problema da violência. Mas, de outra forma, está pendente. Como triste espetáculo de mídia.

   Contrassenso definidor da condição humana. Vendo Jesus Cristo assassinado, vejo nele estampado o meu instinto assassino. Mas, em contrapartida, dEle provém a solução.

  Erguido na cruz, para ela converge toda a vista do estandarte de toda a violência. Jesus Cristo é o bode expiatório de toda a violência. Avisem ao profeta, que Deus, num só ato, resolveu.

  Avisem Girard. O Cristo é o Sumo bode expiatório. Acho até que o filósofo pensava nisso. Deus, então, espera, por amor, que haja arrependimento. Essa é a resposta de Deus à violência.

  Enquanto isso, assiste ao espetáculo triste, muito triste, da violência exposta como rotina vulgar. 


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